Fernando Travaglini, de São Paulo
26/03/2009 |
Um dos maiores vilões da diminuição da oferta de crédito para empresas de “middle market” foi a redução brusca da captação dos bancos médios. A solução estudada pelo governo, de elevar a garantia dada aos depósitos bancários para R$ 20 milhões, anima as instituições de médio porte.
Para Adalberto Savioli, presidente da Acrefi e diretor do Banco Panamericano, esta medida é uma das mais adequadas para resolver o problema de funding. Hoje, depois das ações do Banco Central, como a liberação do compulsório e as compras de carteira pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC), a situação da liquidez melhorou bastante, mas os investidores ainda voltam de maneira tímida.
A proposta de ampliar a cobertura do FGC a aplicações dos atuais R$ 60 mil para R$ 20 milhões é vista positivamente também pelo Banco Sofisa. Para o diretor financeiro do banco, Ricardo Simone, foi alternativa provavelmente mais eficiente entre as já cogitadas para melhorar a liquidez do sistema financeiro. Mas Simone sugeriu que a garantia extra só deveria beneficiar os investidores dispostos a aplicar a médio e longo prazo.
No auge da crise, em meados de outubro, o custo de captação via CDB disparou, enquanto investidores, incluindo empresas, buscavam resgatar suas aplicações bancárias para conseguir a liquidez perdida no crédito.
Otávio Vieira, diretor de investimentos da Safdié Private Banking, explica que ainda há muita diferenciação de taxas, mas os grandes bancos já reduziram os custos para patamares próximos do DI – entre 100% e 102% do CDI – nas captação de grandes volumes juntos a investidores institucionais. Já os médios conseguem taxas entre 116% e 120% do CDI.
Além da falta de demanda, o preço também é um problema. Uma emissão de debêntures da Bradespar, feita no início do ano, tem servido de piso para o mercado, num patamar que os emissores não estavam acostumado. Os papéis saíram a 125% do CDI e hoje são negociados no mercado secundário a 117%, na ponta compradora, e 116% na vendedora.
Outra dificuldade são os bancos que captavam via emissão de fundo de direito creditório (FIDC). Parte desse funding começa a vencer no meio do ano e por enquanto o mercado está fechado para novos lançamentos.
Para Renato Oliva, presidente da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), aos poucos o crédito vai “destravando”, mas a captação via CDB é essencial para que seja retomada a dinâmica do crédito. “Hoje os bancos estão mais confortáveis para dar crédito do que um mês atrás, por conta das as informações dos balanços anuais das empresas.” Oliva ressalta, no entanto, que isso não significa que as coisas estejam resolvidas, pois o cenário é imprevisível e novos problemas de queda de demanda agregada podem ocorrer daqui pra frente.
Assim, as empresas que hoje sofrem com redução de receita e aumento de custo terão um novo padrão de rentabilidade e será preciso rearranjar os negócios a essa realidade. “A necessidade de capital de giro diminuiu. Isso significa que precisam de melhor gestão de estoque. E as companhias têm de mostrar para os bancos que podem fazer isso.”
Segundo o diretor-executivo do Banco Daycoval, Carlo Dayan, o banco tem de fazer o “dever de casa”, desde o último trimestre do ano passado, ou seja, “separar o joio do trigo”, disse. “As empresas estão começando a mostrar os balanços. Os comitês de crédito estão analisando os números. Isso demora, mas os bancos vão voltar a apoiar quem está indo bem.”
O setor que tem mais sofrido é o agropecuário, por conta da queda do valor das commodities, completa Dayan. “Este segmento era um muito apoiado pelos bancos estrangeiros. Os bancos privados não eram tão agressivos. Com o aperto, os estrangeiros cortaram as linhas e não houve renovação. Isso vem acontecendo desde o início de 2008 com empresas de soja, álcool e frigoríficos, que não foram atendidos pelos bancos locais.” (Colaborou Maria Christina Carvalho)
Fonte: Valor Econômico
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26/03/2009
Cobertura de depósitos mais ampla é a melhor solução, dizem os bancos
Valor Econômico