Os bancos brasileiros ficaram mais conservadores com a crise. Em 2008, as despesas de provisões para créditos de liquidação duvidosa cresceram 43% e somaram R$ 37,6 bilhões. Com isso, o saldo total das provisões fechou o ano em R$ 56 bilhões, expansão de 48%, segundo levantamento da consultoria Austin Rating com base nos balanços dos 20 bancos que já divulgaram resultados até agora e que inclui as maiores instituições do país.
Temendo aumento da inadimplência, os bancos fizeram reforços extras nas provisões, acima até dos padrões mínimos exigidos pelo Banco Central, destaca Erivelto Rodrigues, presidente da Austin Rating. O movimento foi mais acentuado no quarto trimestre, antecipando uma piora dos calotes nos primeiros meses de 2009. “A inadimplência já subiu e vai aumentar mais. Os bancos se anteciparam a esse movimento e criaram um colchão de liquidez”, diz ele.
Mesmo em meio a maior crise financeira mundial dos últimos 70 anos, os bancos brasileiros ainda mantiveram ganhos bilionários. O lucro líquido dessas 20 instituições foi de R$ 32,7 bilhões, expansão de 2,9% em relação a 2007. Os ativos do sistema subiram 33% e ultrapassaram a marca de R$ 2,1 trilhões.
O ano de 2008 teve dois momentos distintos para os bancos. Nos três primeiros trimestres, houve forte expansão dos empréstimos e das receitas. No quarto trimestre, após a quebra do Lehman Brothers nos Estados Unidos, as coisas mudaram radicalmente. O crédito diminuiu, as provisões aumentaram e os depósitos caíram, especialmente nos bancos menores.
As operações de crédito dos bancos analisados bateram em R$ 878 bilhões em dezembro, alta de 33%, boa parte disso puxado pelos nove primeiros meses do ano. Bancos como o Votorantim e o Banrisul tiveram aumento ainda maior nos empréstimos, com crescimento acima de 42%. As receitas com o crédito também cresceram. Bateram em R$ 120 bilhões, um aumento de 34% frente a 2007.
Já os depósitos tiveram comportamento diferente entre os bancos maiores e os menores. O total do setor cresceu 47,5% e chegou a R$ 823,1 bilhões. Nas maiores instituições como Itaú Unibanco e Bradesco, o aumento superou os 60%. Já nos bancos de menor porte, como BMG, Pine e Daycoval, a queda nos depósitos ficou acima dos 20%.
A equipe de análise da Link Investimentos destaca que esse movimento reflete a típica busca de ativos menos arriscados pelos investidores, o chamado “fly to quality”. Em momentos de crise, a preferência é por papéis de menor risco, representados por Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) dos bancos maiores, mesmo estando as instituições menores em boa solidez financeira.
Este ano prometer ser também um período complicado para os bancos. O grade desafio, diz o presidente da Austin, é continuar emprestando e manter a qualidade da carteira de crédito. “Os bancos terão que ser mais seletivos”, diz Rodrigues.
Ainda com relação aos balanços do ano passado, a rentabilidade patrimonial das 20 instituições avaliadas teve pequena queda em 2008, baixando de 22,9% do ano anterior para 21,2%. As receitas com serviços subiram 7,4% para R$ 48,7 bilhões.