O Banco do Brasil (BB) pisou no acelerador no quarto trimestre de 2008. Aproveitando a retração dos concorrentes com a crise internacional e sob pressão do controlador, o governo, turbinou os ativos e a carteira de crédito, o que lhe garantiu o maior lucro até agora registrado em um ano e lhe permitiu reduzir substancialmente a distância em relação ao novo líder do mercado, Banco Itaú Unibanco, formado pela fusão do Itaú com o Unibanco, anunciada em novembro.
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O lucro líquido contábil cresceu 57,7% do terceiro para o quarto trimestre e atingiu R$ 2,944 bilhões, acumulando R$ 8,803 bilhões no ano, 74% acima do registrado em 2007. O retorno sobre o patrimônio líquido foi de 32,5%.
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O resultado é recorde para um banco brasileiro. O Bradesco lucrou R$ 7,62 bilhões em 2008. Itaú e Unibanco só divulgam o resultado após o Carnaval.
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Alguns especialistas não gostaram dos números por causa da importância dos efeitos extraordinários no resultado, principalmente o reconhecimento de ganhos do fundo de pensão Previ, como notou a analista Laura Lyra Schuch, da corretora Ativa. Mas os analistas da corretora Fator elogiaram o forte crescimento da carteira de crédito e da base de captação, que engordou a margem financeira. As ações ordinárias do BB tiveram alta de 2,14% para R$ 13,80, ontem, dia em que o Ibovespa subiu 0,14%.
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Excluindo os ganhos extraordinários, o lucro líquido recorrente foi de R$ 1,626 bilhões no quarto trimestre, 20,2% a menos do que o do terceiro trimestre. No ano, o lucro acumulado ficou em R$ 6,685 bilhões, 13,7% maior do que o de 2007.
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A principal receita extraordinária foi proveniente do reconhecimento de ganhos atuariais da Previ de R$ 5,326 bilhões. O banco aproveitou esse ganho para fazer despesas também extraordinárias, que absorveram quase R$ 4 bilhões. Uma delas foi a antecipação de 15 anos de despesas com o plano de saúde dos funcionários, no valor de R$ 1,259 bilhão; e outra foi a provisão adicional para devedores duvidosos no montante de R$ 1,594 bilhão.
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Os ativos totais do BB cresceram com o forte aumento do crédito. Os ativos avançaram 38,3% para R$ 507,348 bilhões; e a carteira de crédito teve expansão de 39,9% para R$ 224,808 bilhões, superando o crescimento médio registrado pelo sistema financeiro de 31%.
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O balanço inclui os dados do Banco do Estado de Santa Catarina (Besc) e Banco do Estado do Piauí (BEP), adquiridos em 2008. Somando-se os números dos ativos da Nossa Caixa de setembro (R$ 53,4 bilhões) e 50% do Votorantim de dezembro (R$ 72 bilhões), cujas aquisições serão concretizadas neste ano, o BB terá R$ 610,7 bilhões e vai encostar no Itaú Unibanco. Pelos dados de setembro, Itaú Unibanco tem R$ 575,1 bilhões em ativos totais. Se ele crescer o mesmo que o Bradesco no quarto trimestre, chegará a R$ 618,2 bilhões em ativos totais.
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Já em crédito, é maior a vantagem do Itaú Unibanco, com uma carteira de R$ 225,3 bilhões em setembro e estimados R$ 295 bilhões se tiver acompanhado a média do mercado. O BB terá R$ 224,8 bilhões em créditos considerando-se sua posição e a do Votorantim em dezembro (R$ 38,2 bilhões) e a de setembro da Nossa Caixa (R$ 11,5 bilhões).
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O BB já comprometeu R$ 11,6 bilhões em aquisições, informou o presidente Antonio Francisco de Lima Neto.
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Pela Nossa Caixa, serão R$ 7 bilhões, pagos em 18 meses, incluindo oferta a minoritários; e R$ 4 bilhões por 49,99% do Votorantim, depositados em três parcelas. O banco negocia ainda a compra do Banestes, do Espírito Santo, e o Banco Regional de Brasília (BRB).
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As aquisições vão reduzir a capacidade de alavancagem do BB. O índice da Basiléia do BB fechou 2008 em 15,6% o que permitia ao banco emprestar mais R$ 115 bilhões. O índice foi favorecido por algumas mudanças de regras: diminuiu a ponderação do crédito tributário e as provisões para devedores duvidosos adicionais não reduzem mais o patrimônio líquido de referência (PLR).
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As novas compras, estima o vice-presidente, Aldo Mendes, devem reduzir o índice da Basiléia para 12,5% a 13%. Mas isso não preocupa. Mendes afirmou que há outras fontes de recursos como a capitalização do lucro líquido, excluídos os 40% distribuídos como dividendos, ou a emissão de dívida subordinada.
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É pouco provável a existência de espaço para alguma emissão de ações, diante da situação atual do mercado. Na verdade, o BB até precisava fazer isso para atender a exigência de ter 25% de ações no mercado (“free floating”). Atualmente, tem cerca de 21%. O prazo para isso termina em junho e Mendes já adiantou que o banco deve pedir um “waiver” pelo não cumprimento da norma.
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A carteira de crédito do BB cresceu 11,2% no quarto trimestre e 39,9% no ano para os R$ 224,8 bilhões. Para este ano, o banco estima que o crédito vai crescer 17%. O BB comprou R$ 14 bilhões em carteiras de outras instituições financeiras.
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A carteira de pessoa física foi a que mais aumentou, 52,5% para R$ 48,8 bilhões. Um destaque foi a linha de financiamento de veículos, que mais do que dobrou, crescendo 120,7% em 2008 para R$ 6,7 bilhões. O crédito no cartão saltou 100%, para R$ 7,6 bilhões. Mas, a maior linha é a de crédito consignado, que avançou 48,4% para R$ 17,6 bilhões.
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A carteira de crédito para pessoa jurídica teve expansão de 48,4% para R$ 97,2 bilhões. A linha para pequena e micro empresa aumentou 52% para R$ 62,3 bilhões; e a de empresas médias e grandes, avançou 41,7% para R$ 34,9 bilhões.
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O saldo médio da carteira de adiantamento sobre contrato de câmbio e cambiais entregues (ACC e ACE) manteve o ritmo mesmo durante a crise.
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As despesas do BB com provisões para devedores duvidosos cresceram 51,6% em 2008, somando R$ 8,6 bilhões. Mas o banco ressaltou que a inadimplência está sob controle. A taxa média é de 2,4% da carteira com atraso acima de 90 dias, número inferior à media do sistema financeiro, que é de 3%, e abaixo do patamar de 2007, de 2,7%.
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Nas operações com pessoas físicas, a taxa caiu de 6,3% em 2007 para 5,9% no fim de 2008; e a de pessoas jurídicas, recuou de 2% para 1,7% no mesmo período.
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Fonte:Jornal Valor Econômico