
A programação começou com a aprovação do regimento interno do evento e a apresentação dos resultados da Consulta Nacional, realizada no primeiro semestre, com mais de 33 mil bancários. “Discutir o sistema financeiro brasileiro é fundamental. Agradeço a parceria com o Dieese e os palestrantes aqui presentes”, destaca o presidente do Sindicato, Lourival Rodrigues.
“Precisamos estar sempre municiados de informações para o debate com os bancários e com a sociedade. É essencial refletir sobre o que queremos e onde queremos chegar. Teremos um ano intenso pela frente, com a eleição do próximo ano. Estou convencido da importância do conhecimento compartilhado”, completa.
Ao longo do dia, foram promovidas mesas temáticas. A primeira delas contou com o historiador João Cezar de Castro Rocha que destacou o papel estratégico do Senado nas eleições de 2026 e alertou para o risco de avanços autoritários da extrema direita.

Segundo ele, a preservação da democracia depende da escolha de representantes comprometidos com os direitos sociais e trabalhistas.
Outro painel debateu sobre os impactos da inteligência artificial (IA) no mundo do trabalho e a necessidade de regulação para garantir a proteção de direitos. A discussão contou com a presença de dirigentes sindicais e do assessor da Secretaria de Políticas Digitais da Presidência da República, Lucas Leffa.
Leffa abordou os desafios impostos pelos golpes digitais, fraudes e preconceitos algorítmicos, destacando a importância de uma regulação que proteja os direitos dos trabalhadores frente ao avanço da tecnologia.
Vale lembrar que categoria bancária, representada pelo Comando nacional, tem andamento uma mesa de negociação com a Fenaban sobre novas tecnologias e impactos da IA no setor financeiro.

Um novo Sistema Financeiro Nacional
A necessidade de repensar o modelo do Sistema Financeiro Nacional (SFN) foi o foco do debate da mesa “Por um sistema financeiro a serviço do desenvolvimento”, apresentada pelo doutor em economia pela Unicamp e técnico do Dieese, Gustavo Cavarzan, e pelo doutor em Política Internacional e professor da FespSP, Moisés Marques.
Ambos abordaram o crescimento expressivo das fintechs e seus impactos sobre empregos, segurança e soberania. Cavarzan ressaltou que instituições como a Nu Brasil Tecnologia Ltda, ligada ao Nubank, se beneficiam de incentivos fiscais substanciais — R$ 94 milhões entre janeiro de 2024 e fevereiro de 2025 — e não estão sujeitas às mesmas obrigações trabalhistas e tributárias dos bancos tradicionais.
Já Marques alertou que a expansão das fintechs aumenta riscos de fraudes e lavagem de dinheiro, citando que, em seis anos, cerca de R$ 28 bilhões foram movimentados por facções criminosas.
O debate destacou a importância da atuação de movimentos sociais e sindicatos na construção de um sistema financeiro alinhado ao desenvolvimento do país, defendendo a autonomia do Banco Central como parte da República, não apenas das finanças.
Entre as propostas apresentadas para fortalecer o SFN estão: ampliação do Conselho Monetário Nacional (CMN) para incluir representantes da sociedade; fim do descasamento de mandatos entre presidente da República e direção do BC; regulação das fintechs quanto a nomenclatura, CNAEs, direitos trabalhistas, sindicalização e tributação; revisão da meta de inflação para 4% ±2 pontos percentuais; aumento do período de quarentena para diretores do BC; mecanismos para fomento do pleno emprego; e ações que evitem juros abusivos, principalmente em crédito ao trabalhador.
Outro painel discutiu a transformação do emprego bancário diante dos investimentos em novas tecnologias. Dados do Dieese, apresentados pelas economistas Vivian Machado e Rosangela Viera, mostraram que os bancos brasileiros ampliaram em 97% seus aportes em tecnologia entre 2018 e 2023, contra média global de 35%.
A previsão para este ano é de cerca de R$ 50 bilhões. Mais de 80% das instituições já incorporam inteligência artificial generativa, enquanto 75% das transações em 2024 foram realizadas por mobile banking.
Apesar do avanço digital, o fechamento de agências físicas continua: desde 2016, 6,7 mil unidades foram encerradas, ao mesmo tempo em que cooperativas e correspondentes bancários se expandiram.
Com o tema “O Futuro que queremos: justo, sustentável, inclusivo e democrático”, a 27ª Conferência Nacional prossegue neste domingo (24), com a definição da pauta de reivindicações da categoria para os próximos meses.


(Com informações Contraf-CUT)

