
Talvez você perceba o coração acelerado, uma dificuldade maior para realizar as tarefas do dia a dia ou uma tristeza sem explicação e se pergunte: o que está acontecendo comigo?
Seja qual for a situação, a certeza é que, cedo ou tarde, o diálogo sobre saúde mental fará parte da rotina de todos nós. No Brasil, ansiedade e depressão foram as principais causas de afastamento do trabalho em 2024 devido a transtornos mentais, de acordo com um levantamento do portal G1, baseado em dados do Ministério da Previdência.

Segundo o estudo, mais de 470 mil afastamentos foram concedidos no ano passado por transtornos mentais, sendo 141 mil por ansiedade e 113 mil por depressão. O número é o maior em
10 anos e representa um aumento de 68% em relação ao ano anterior, quando 283 mil benefícios foram concedidos por essa razão.
O Relatório Global de Saúde Mental, divulgado pela OMS em junho de 2022, apresenta dados igualmente alarmantes. De acordo com o documento, uma em cada oito pessoas convive com algum tipo de transtorno mental. A OMS estima que 264 milhões de pessoas no mundo sofrem de depressão e ansiedade, sendo que o Brasil tem a maior prevalência de ansiedade, com 9,3% da população afetada.

A categoria bancária, cada vez mais pressionada por metas abusivas e exposta a práticas de assédio moral, como rankings de produtividade e desrespeito ao direito de desconexão, sente diretamente os impactos do trabalho na saúde mental.
No ano passado, a pesquisa “Avaliação dos Modelos de Gestão e das Patologias do Trabalho Bancário”, realizada pela Secretaria de Saúde do Trabalhador da Contraf-CUT em parceria com pesquisadores do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB), revelou que 80% dos trabalhadores do setor financeiro tiveram pelo menos um problema de saúde relacionado ao trabalho no último ano.
Desses, quase metade estava em acompanhamento psiquiátrico, sendo o trabalho o principal motivo para a busca por tratamento. Entre os que estavam em acompanhamento, 91,5% utilizavam medicações prescritas.
“A saúde mental deve ser uma prioridade para trabalhadores e empregadores. Não podemos mais ignorar o impacto das condições de trabalho na vida dos bancários. A pressão excessiva, o assédio moral e a falta de respeito ao direito de desconexão têm adoecido nossa categoria e somente unindo forças poderemos encontrar um caminho”, diz o presidente Lourival Rodrigues.
NR-01

A boa notícia é que o debate sobre o tema e a necessidade de medidas preventivas e de acolhimento têm ganhado força. No Brasil, as empresas têm até 25 de maio para se adequar às novas diretrizes do Programa de Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO), que agora inclui a gestão de riscos psicossociais, como a prevenção ao assédio e à violência no trabalho.
A mudança faz parte da atualização da NR-01, estabelecida pela Portaria MTE 1.419, publicada em agosto pelo Governo Federal. A nova regra reforça a importância da saúde mental no ambiente laboral ao tornar obrigatória a identificação e gestão de riscos psicossociais, incorporando estratégias de prevenção ao assédio e à violência no Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) das empresas. “Nós que somos bancários e acompanhamos a rotina da categoria sabemos o quanto o debate sobre saúde mental é importante e é responsabilidade social de todos”, diz Lourival.
