
O termo “recuperado” deveria estar entre aspas, visto que, descrições em literatura científica, relatos em mídias sociais dos próprios pacientes acumulam e apontam para uma realidade preocupante sobre os sintomas que persistem, além das quatro semanas da fase aguda da doença viral.
Esses sintomas persistentes compõem a nova Síndrome pós-Covid aguda ou Covid longa. A lista dos sintomas é extensa, praticamente envolve todos os sistemas e aparelhos do nosso organismo. No pulmão, que é o principal alvo, pacientes se referem a falta de ar de 20% a 40%, com rebaixamento na capacidade física. No coração, relatos de palpitações em 9% dos casos e 5% com dor no peito, após seis meses. No sistema digestivo, alteração do ritmo intestinal persistente tem sido relatado, podendo ser devido a mudança da flora intestinal.
Na parte dermatológica, relatos de rash (vermelhidão, coceira) na pele tem sido relato de 3%, após seis meses, porém a queixa mais frequente é queda de cabelos em 20%. Na parte do sistema nervoso, a perda do olfato tem persistido em 10% após seis semanas, sendo dor de cabeça em 40%, comprometimento da memória, dificuldade de encontrar palavras ao falar e embotamento, os outros sintomas relatados.
Na saúde mental, metade dos pacientes internados, podem apresentar síndrome pós-traumática com sintomas depressivos, ansiedade, insônia e compulsão. Sintomas depressivos e ansiedade são frequentes em até 40%. Fadiga é um sintoma relatado em metade dos casos sendo mais frequente os mais graves. A fadiga caracterizada pela sensação de desgaste, cansaço e falta de energia tem um impacto no desempenho ocupacional do indivíduo. O mecanismo da fadiga na síndrome pós-Covid aguda não é totalmente conhecido, visto envolver modelo teórico com componente psicológico e emocional; o componente central, com o sistema nervoso e a função cerebral cognitiva; e o componente periférico, com a capacidade cardiopulmonar e integridade músculo esquelético.
Alguns estudos interessantes sobre fadiga apontam para comprometimento do funcionamento cerebral. O grupo da Unicamp faz observação que a conectividade cerebral apresenta um padrão diferente como estivesse funcionando de maneira mais acentuada. O grupo italiano faz observação que em pacientes com fadiga, o cérebro apresenta comprometimento no sistema inibitório. Juntando as partes, a fadiga na síndrome pós-Covid aguda, pode ser decorrente de uma disfunção cerebral. Contudo, o desafio maior está em como dar assistência a essas pessoas com sintomas diversos, cujo manejo necessita ser multidisciplinar com escala e abrangência nacional.
Sem entrar em predições numéricas complicadas, cada um pode fazer seus próprios cálculos, pois a quantidade de pessoas que ainda enfrenta a longa recuperação é muito grande e isso irá impactar no sistema de saúde, que já encontra-se muito fragilizado na assistência de casos agudos. Portanto, vale resgatar o ditado popular, “mais vale a pena prevenir do que remediar”, e no caso da Covid-19, basta seguir as recomendações: 1) use máscara, 2) higienize as mãos com frequência, 3) mantenha distância física das pessoas (1,5 metro), 4) não aglomere e não cause aglomeração, 5) faça atividade física (150 minutos por semana), 6) se tiver sintomas, procure o médico, se isole para não contaminar outras pessoas, 7) vacine-se na hora que chegar a sua vez e também tome a vacina contra a gripe.
Dr. Li Li Min, coordenador do Departamento de Neurologia e professor titular de Neurologia da Unicamp.