A principal bandeira de luta levantada nas atividades comemorativas ao Dia Internacional da Mulher (8 de março) foi o fim da violência e do feminicídio, conforme escolha das bancárias consultadas em recente pesquisa realizada pela Confederação dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), da qual o Sindicato é filiado.
No Brasil, segundo a plataforma Eva (Evidências sobre Violências e Alternativas), do Instituto Igarapé, as mulheres estão no topo de todos os tipos de violência, com exceção da letal: violência física (73%), patrimonial (78%), psicológica (83%) e sexual (88%). Além do impacto na vida, no dia a dia, a violência atinge a produtividade, gera ausências no trabalho, demissões e redução da performance. Para a cientista política Ilona Szabó de Carvalho, em sua coluna no jornal Folha de S. Paulo (4/12/19), os dados apresentados pela citada plataforma, “contribui para a elaboração de políticas públicas para prevenir, reduzir e eliminar a violência” contra as mulheres.
No mundo bancário, a categoria deu um passo importante, conquistou um canal e atendimento às mulheres vítimas de violência, durante negociação entre as instituições financeiras e os sindicatos, realizada no último dia 19 de fevereiro. O canal será regulamentado em acordo, a ser assinado em breve.
Depois da violência, outra grande questão é a desigualdade de gênero, seja no trabalho ou na política. Os salários das bancárias contratadas em 2019, por exemplo, corresponderam a 75,7% da remuneração dos bancários contratados no mesmo ano, segundo o Dieese.
Quanto à participação das mulheres em cargos de chefia, a discriminação também persiste. No país, as mulheres com idade entre 30 e 49 anos, ocupando cargos de gerência e diretoria no setor formal, representavam 39,2% e 42,4%, respectivamente, em 2017, segundo levantamento do jornal Folha de S. Paulo, com base na Rais (Relação Anual de Informações Sociais).
Na política, a desigualdade ainda é gritante. O direito das mulheres votarem completou 88 anos no último dia 24 de fevereiro. Conquista histórica da onda feminista. Inclusive as mulheres participaram ativamente na luta contra a ditadura militar instalada no país em 1964 e pela redemocratização no final do anos 70 do século passado. Porém, a representação em várias esferas políticas permanece minoritária.
Para ilustrar esse descompasso, na atual legislatura, apenas 77 deputadas na Câmara Federal (15% das 513 cadeiras); no Senado, tão somente 12 parlamentares (14,8% das 81 cadeiras).
É preciso mudar, é possível mudar. Mobilização é a palavra chave para cumprir um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), proposto pela ONU em 2015, para ser alcançado em 2030; ou seja, igualdade de gênero e empoderamento das mulheres (ODS 5).
Violência contra a mulher, no país (2018)
Homicídios: 4.069
Feminicídio: 1.206
Estupros: 53.726
Violência doméstica: 263.067 casos
Fonte: Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2019)
Desigualdade salarial nos bancos
16.400 mulheres contratadas em 2019
Salário médio: R$ 3.893,00
Equivale a 75,7% da remuneração média
dos homens admitidos no período.
Fonte: Dieese
Postos de trabalho
467.686 mil trabalhadores no setor bancário
49% dos postos ocupados por mulheres
Ano: 2017
Fonte: Dieese
Depoimento
Participação da bancária em cargo gerencial
“A cada dia tem aumentado a participação das mulheres, principalmente em níveis de gerenciamento. Porém, é pequena quando se trata de cargos executivos”.
Marli Ap. Fonseca Galdiano Bom, gerente regional do Bradesco, em Campinas.
“A participação da mulher na estrutura do Banco reflete o mercado financeiro no geral, que é essencialmente masculina. O processo para chegar a uma posição de comando exige muito mais esforço e competência de uma mulher do que de um homem. Alçar funções executivas é difícil, mas não impossível. Existe espaço para as mulheres no BB, mas questões familiares ainda pesam na decisão de ocupar esses espaços. Precisamos de muito foco e resiliência.”
Tatianne de Oliveira Silva, gerente geral, agência Dr. Quirino do Banco do Brasil, em Campinas.