Desde o fim das eleições, o mercado brasileiro de câmbio ainda não conseguiu engatar uma nova tendência positiva. O real tem perdido terreno para o dólar de maneira gradual ao longo do mês de novembro, orbitando agora o nível de R$ 3,80. Especialistas apontam que a escalada da moeda americana nos últimos dias decorre da saída de recursos do país, causada tanto por efeitos sazonais de fim de ano como por uma postura menos favorável de estrangeiros sobre os ativos locais. Evidência disso, a taxa do casado – espécie de cupom cambial (juro em dólar) de curtíssimo prazo e que reflete condições de liquidez no mercado à vista – superou pontualmente a marca de 5% nesta semana, depois de ficar bem perto de 3% durante boa parte de outubro.
Esse salto sinaliza o aumento do custo do dólar no mercado interno, resultado de uma menor oferta de divisas por aqui. Embora a perspectiva local ainda seja positiva e não haja motivo de alarde, isso aumenta a ansiedade no mercado com uma possível atuação do Banco Central com leilões de venda de dólares com compromisso de recompra, os chamados leilões de linha. O BC deixou vencer US$ 900 milhões neste tipo de operação no início de novembro.
Agora a expectativa é a de que faça a rolagem de uma linha de US$ 1,25 bilhão que vence no começo de dezembro e, talvez, até abra uma nova posição, dando liquidez ao mercado à vista neste fim de ano, o que tenderia a aliviar parte da pressão na taxa de câmbio. Em outubro, o mercado viveu dias de euforia com as apostas na eleição de Jair Bolsonaro (PSL) para a Presidência, dando um certo conforto para o Banco Central, que decidiu pelo vencimento da operação de linha.
“Agora, não. O cupom de curto prazo está bem pressionado e o BC não só deveria rolar essa linha como poderia oferecer algo a mais”, diz o sócio e gestor da Absolute Investimentos, Roberto Campos. No mercado, um fator determinante para a formação da taxa de câmbio são as operações com contratos futuros.
Esse segmento tem um volume maior de negócios. Por isso, em muitas ocasiões, as ofertas de linha – que afetam mais o mercado à vista – têm efeito bastante limitado no preço do dólar. Desta vez, uma atuação do BC daria um sinal favorável para o mercado, aliviando parte do nervosismo dos investidores, diz o sócio e gestor da Novus Capital, Luiz Eduardo Portella. “Resolvendo essa questão, acalma também o mercado futuro”, afirma o especialista. “Acho que o BC vai agir, sim, mas ele sempre monitora muito bem o fluxo.
Se não fizer, é porque deve ter alguma entrada grande para vir.” Ontem, o dólar comercial avançou pela terceira sessão consecutiva, num movimento que deixou o câmbio local, mais uma vez, entre os piores desempenhos globais. A moeda americana fechou em alta de 0,41%, aos R$ 3,8057, subindo mais de 2% no mês.
Vale destacar que, desde a semana passada, o mercado local tem trabalhado com giro de negócios reduzido por causa de feriados no Brasil e nos EUA. Com o giro mais fraco, os fluxos de capitais – que desta vez são de saída – também acabam influenciando mais a taxa de câmbio. Gestores têm percebido alguma saída de recursos do país, o que ajuda a manter o dólar próximo ou até acima de R$ 3,80, mesmo em dias que os emergentes ganham terreno contra o dólar.
Por aqui, o pano de fundo traz movimentos típicos de fim de ano, quando muitas empresas deslocam recursos para fechamento de balanços, remessas de dividendos e operações de cunho fiscal. Mas, talvez num processo ainda mais relevante, os investidores estrangeiros não parecem muito animados em alocar recursos no Brasil neste fim de ano.
Em novembro, até o dia 16, os não residentes retiraram R$ 3,54 bilhões da bolsa brasileira. Isso ocorre num contexto de aperto monetário das economias desenvolvidas e temores sobre a guerra comercial entre EUA e China.
Também não ajuda o fato de que o ano de 2018 foi marcado por turbulência em emergentes como Turquia e Argentina. Ainda assim, a perspectiva dos investidores é favorável após a eleição no Brasil, tanto é que os juros de longo prazo – um dos principais termômetros de risco no mercado – têm recuado de maneira firme neste mês. A taxa do DI para janeiro de 2025, por exemplo, ficou em 9,63%, nos menores níveis desde abril. Logo, não se trata de um sinal alarmista, mas, sim, de alguma cautela sobre abertura de novas posições no mercado local, além de alguma realização de lucros após o rali de outubro.
“Temos observado fluxo de saída, mas parece ter mais do que um movimento de fim de ano, como remessa para o estrangeiro feito por empresas com matriz lá fora”, diz o operador Thiago Silêncio, da CM Capital Markets. “Tem um pouco de retranca do investidor com o clima global, sem contar a nossa dinâmica fiscal que ainda precisa ser solucionada.”