Desde o ano 2000, o último dia do mês de fevereiro é lembrado como o Dia Mundial de Prevenção às Lesões por Esforços Repetitivos (LER) ou Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT). Estima-se que no Brasil cerca de 3,5 milhões de pessoas têm ou já tiveram essa doença diagnosticada, de acordo com dados do IBGE. Há décadas, a doença está entra as mais frequentes nas estatísticas da Previdência Social.
De acordo com o protocolo do Ministério da Saúde, as LER/DORT “são, por definição, um fenômeno relacionado ao trabalho. São danos decorrentes da utilização excessiva, imposta ao sistema musculoesquelético, e da falta de tempo para recuperação. Caracterizam-se pela ocorrência de vários sintomas, concomitantes ou não, de aparecimento insidioso, geralmente nos membros superiores, tais como dor, parestesia, sensação de peso e fadiga. Abrangem quadros clínicos do sistema musculoesquelético adquiridos pelo trabalhador submetido a determinadas condições de trabalho”.
Ao contrário do que pensa a maioria, a LER/DORT não é uma doença moderna e exclusiva de digitadores. Há registros do início do século XVIII feito pelo médico italiano Bernardino Ramazzini que identificou o que chamou de “doença dos escrivães”.
No Brasil, essa doença começou a ser discutida efetivamente entre os trabalhadores de processamento de dados a partir de meados dos anos 80. Logo se observou, no entanto, que essas patologias não atingiam somente as pessoas que trabalhavam com computadores, mas também profissionais de comércio, telemarketing, frigoríficos, calçados, jornalistas e inclusive bancários.
Segundo os últimos dados do INSS, apenas em 2013 foram 3.094 bancários afastados por auxilio doença e mais 1.495 por acidente de trabalho, todos por conta de doenças do sistema ósteo muscular e do tecido conjuntivo.
Surgimento
As LER/DORT pode surgir em decorrência da intensificação do trabalho de pessoas que realizam movimentos repetitivos. A LER/DORT está ligada à produção e as condições físico-materiais do posto de trabalho. A doença pode estar associada também a esforços físicos e manutenção de determinada postura por tempo prolongado. Outros aspectos psicossociais do trabalho também contribuem para o surgimento e agravamento das LER/DORT, como a falta de suporte social no trabalho, gestão baseada no assédio moral e pressão psicológica constante.
Segundo a pesquisadora da Fundacentro Thais Barreira, existe uma preocupação quanto a banalização das LER/DORT. Essa situação é grave, pois está se naturalizando a ideia de que nada pode se fazer para conter essa doença. Segundo o diretor de Saúde do Sindicato, Gustavo Frias, para piorar a situação, quem adoece sofre assédio moral e é taxado de preguiçoso, muitas vezes entre os próprios trabalhadores.
Essa situação só ajuda os patrões que pouco ou nada fazem para combater as condições de trabalho adoecedoras, além de demitirem aqueles que reclamam de inchaços ou dores nas articulações durante os exames periódicos. Por essa razão, muitos preferem até trabalhar doentes.
Ainda de acordo com a pesquisadora, melhorias em instrumentos, ferramentas e postos de trabalho são insuficientes para prevenir os adoecimentos. É necessário, portanto, mudanças na organização do trabalho e na pressão por metas de produção que acarretam sobrecarga muscular.
Por esse motivo, o dia 29 de fevereiro é um momento importante para resgatarmos o debate e desmistificar a falsa crença sobre essas doenças. É importante alertar os trabalhadores de que é preciso permanecer vigilantes, denunciando sempre aos sindicatos as condições inadequadas e as pressões por produtividade, para que juntos possamos exigir das empresas melhoras nos ambientes e revisão dos processos de trabalho.
Ato marca Dia Internacional de Combate a LER/DORT em Campinas (Fev/2012) Foto: Júlio César Costa
29/02/2016
Dia Mundial de Combate às LER/DORT
Saúde