O Banco do Brasil iniciou a implantação de um projeto piloto de serviços Home Office em áreas administrativas, no final do mês de abril. Os funcionários envolvidos têm que estar disponíveis 24h por dia de segunda-feira a domingo. A ‘inovação’ em caráter experimental começou com nove funcionários lotados em São Paulo e em Brasília. A iluminada diretoria do BB pretende envolver mais 100 funcionários ainda neste primeiro semestre.
A ‘modernidade’ no BB nos remete aos primórdios da Revolução Industrial, do capitalismo. De novo, contemporâneo, apenas a ferramenta, o computador, que liga tudo em rede; trabalho dentro de casa para o mundo corporativo, para o mundo financeiro. Como se isso fosse a oitava maravilha. O velho, em desuso, que o BB quer reativar é a jornada integral, dedicação exclusiva ao capital. Escravidão é a palavra. A histórica bandeira dos trabalhadores em 1886 “8 horas de trabalho, 8 horas de sono, 8 horas de lazer”, que originou o 1º de Maio depois do massacre ocorrido em Chicago (Estados Unidos), foi rasgada, jogada na lata de lixo. Rasgada e jogada, mas será recuperada, com certeza. “Em nome do moderno, exploração total do funcionário. O que é inaceitável. Aliás, já era no século 19. Não pode passar em brancas nuvens em pleno século 21”, avalia a diretora do Sindicato, Deborah Negrão de Campos. Em sua opinião, o BB “lança um projeto, sem discutir com o movimento sindical e faz divulgação de parecer favorável do movimento à proposta. Não podemos ser favoráveis àquilo que não conhecemos com maior profundidade. Nada nos foi comunicado”. A diretora Deborah se refere à matéria divulgada pela chamada grande imprensa, mais especificamente na “Época Negócios” (4/5), que informa: “os sindicatos receberam bem a proposta”. Piada, claro, de puro mau gosto. Qual o Sindicato que se alia ao capital para intensificar a exploração do trabalhador? Só se for o sindicato capitaneado pelo diretor de Gestão de Pessoas, Carlos Alberto Araújo Netto. Para ele, segundo a citada revista, “a ideia é abrir a possibilidade para o novo”.
O projeto Home Office, na verdade, virou ‘Slave Office’. Senão vejamos. De acordo com a grande imprensa, o ponto deve ser batido, a jornada contratada deve ser cumprida. “O funcionário, no entanto, deve verificar seus e-mails constantemente. É ou não é trabalho integral, 24h por dia”, indaga a diretora Deborah Negrão de Campos. Segundo ela, pesquisa sobre o tema constatou que quem trabalha em casa vê como desvantagem do modelo adotado as horas trabalhadas a mais, diariamente. Sem falar nas perguntas até agora sem respostas. Informações divulgadas pela grande imprensa destacam que o local de trabalho deve ter certificação da área responsável pela segurança do trabalho. O mobiliário será cedido pelo Banco? Serão respeitadas as normas referentes à ergonomia ou ficará sob a responsabilidade do funcionário? Como será a manutenção? E os custos adicionais de conexão à internet rápida, equipamentos eletrônicos e energia elétrica? Serão reembolsados?
Para a diretora Deborah Negrão de Campos, “é urgente, portanto, a abertura de negociação com os sindicatos. Enquanto isso não ocorre, o projeto deve ser suspenso. Reestruturação é sempre uma alternativa que as empresas aplicam visando reduzir custos. Ao envolver trabalhadores, a discussão deve, necessariamente, passar pelos sindicatos. A época da imposição já foi superada; negociação é o caminho, com respaldo da categoria mobilizada”.