
A chamada Jornada de Junho, com o povo ocupando as ruas, foi um fenômeno que surpreendeu todo mundo, na avaliação do cientista politico Luiz Werneck Vianna, professor e pesquisador da PUC-Rio, palestrante no Painel sobre o tema “Onda de protestos no Brasil, junho de 2013. O significado da mobilização popular”, que abriu na manhã deste sábado (10/08), o segundo e último dia do 5º Congresso dos Bancários, Financiários e Cooperavitários de Campinas e Região, realizado no Hotel Fazenda Santa Mônica, em Louveira. “Quem disser que não há riscos nesse processo, está mentindo. Quem disser que não há possibilidade da mobilização sair mais encorpada, perdeu a esperança. São dois caminhos. Não teremos uma solução virtual. É preciso empenho para transformar esse susto, esse raio em dia de céu azul; transformar esse limão em limonada”.
Para Werneck Vianna, o que se sabe que o movimento não surgiu do mundo do trabalho. “Não é um conflito entre capital e trabalho”, destacou. Em sua opinião, o sindicalismo, que sempre teve força, “tem sido um ator menor. As centrais sindicais se limitaram a uma agenda puramente sindical. Serve de alerta para que o mundo trabalho passe a desempenhar um papel mais relevante. O que não será fácil. A jornada de junho, que se estende até neste mês de agosto, deve ser entendida a partir das motivações, das origens. Trata-se de um movimento da juventude, que trouxe uma energia nova que não está canalizada pelas instituições politicas”. Na verdade, segundo o professor e pesquisador, o movimento se transformou contra tudo que aí está. Constituído nas redes sociais, que permite a horizontalização, o movimento teve um mínimo de organização, no caso do passe livre. Werneck Vianna destacou ainda que a jornada aglutina todos os segmentos, incluindo os Black Bloc que prega a cultura da violência, escondem os rostos, optam pela depredação, rejeita a presença no movimento de partidos políticos. “A sociedade não está acostumada. Muita calma nessa hora. É preciso deixar o processo decantar, observar, refletir e agir”.

O professor da PUC Rio disse também que esse “vendaval” no pais não foi por falta de democracia (como no Egito) e nem foi causado pela crise econômica. “O que ocorreu e vem ocorrendo é uma mobilização social imensa; surge uma nova classe média de novo tipo. Toda essa multidão que chega ao mundo da cidadania brasileira chega desemparada de instituições, de sindicatos, de partidos políticos e de movimentos sociais organizados”. Para Werneck Vianna, esse desemparo, ocorreu porque o Estado brasileiro encapsulou os movimentos sociais. Tudo virou secretarias de governo. Isso silenciou. Passamos por um processo de modernização econômica e social que não trouxe a dimensão do moderno, que é a autonomia em relação ao Estado. Criou-se uma distancia abissal entre sociedade e Estado. As invasões de câmaras de vereadores, a ‘ocupação’ do Congresso Nacional, mostram a distância com as instituições. Como dizem, ‘vocês não me representam’. Essa população foi chamada apenas de consumidora e não como cidadão. A raiz do problema está aí. Se entendermos assim, o caminho a trilhar não é difícil: abrir caminho para a cidadania, que não se resume as politicas de bolsas disso e daquilo”.
Ao finalizar sua exposição, Werneck Vianna disse que “algo compartilhamos com o Egito, Grécia, Tunísia, etc.: estamos diante de uma transição de uma Era para outra. O problema é que não há caminho novo diante de nós. As experiências vividas, como o socialismo real, não foram convincentes. Não sabemos para onde iremos. Temos que sondar as novas possibilidades. Mas, há algo em toda essa movimentação. Novas formas de cooperação começam a se impor. Novas formas de gestão no interior das empresas. Democratizar os espaços dentro das empresas. Nesse sentido, não há como não ter uma posição otimista. É avanço”.

Fotos:Júlio César Costa