Culpa dos banqueiros
Em seu artigo publicado no jornal Correio Popular, edição do dia 16 de outubro de 2011, página B4, intitulado “As greves burras”, o coordenador de Economia do Grupo RAC, Helio Paschoal, considera as paralisações dos trabalhadores dos Correios e do ramo financeiro um desrespeito para com a população, principalmente com os idosos. Classifica os grevistas como “insensíveis”, que buscam tão somente prejudicar as pessoas, e sugere a modernização das greves.
Apesar de reconhecer o direito de greve, o coordenador de Economia do Grupo RAC parece desconhecer o objetivo desse último recurso da classe trabalhadora no embate com o capital; no caso dos bancários, o capital financeiro. O articulista em nenhum momento comenta que o atual sistema financeiro é excludente, elitista; sequer reclama das altas taxas de juros, das tarifas de serviços. Arvora-se apenas em defensor dos idosos, penalizados pela greve dos bancários. Tudo indica que nunca entrou numa agência bancária. Mas, caso tenha adentrado, então tapou os olhos para não ver as imensas filas, em função da falta de mais bancários, a ‘seleção’ de quem entra ou não, dentre outros abusos. Na verdade, nesse “jogo”, quem não respeita clientes e usuários de serviços bancários, a população em geral, são os banqueiros. Não respeitam inclusive seus próprios funcionários, representados pelos sindicatos. Após cinco rodadas de negociação, simplemente propuseram a reposição da inflação dos últimos doze meses e tão somente 0,56% de aumento real, quando 24 instituições financeiras lucraram R$ 24,9 bilhões no primeiro semestre deste ano.
O Sindicato dos Bancários de Campinas e Região, integrante do Comando Nacional, que negocia com a Fenaban (Federação Nacional de Bancos), quer modernizar a relação entre capital e trabalho. Quem não quer sãos banqueiros. O Comando, por exemplo, defende um contrato coletivo de trabalho completo, que abarque não apenas o reajuste salarial, mas, sim, a organização do trabalho. Porém, os banqueiros ainda vivem no século 19 quando se trata de negociar com os trabalhadores. Naturalmente, a greve é colocada na ordem do dia. Os bancários, no entanto, não buscam penalizar aqueles que necessitam de seus serviços. Os verdadeiros culpados, responsáveis pelos possíveis transtornos vividos em função da greve, são os banqueiros.
Para finalizar, cabe esclarecer que o Sindicato não se opôs ao esquema montado para efetuar o pagamento de aposentadorias. Cabe esclarecer ainda que a greve não atingiu o autoatendimento. Sem falar que a população tem à sua disposição o famigerado correspondente bancário, que tem como papel atender cidadãos de baixa renda, expulsos das agências climatizadas pelos banqueiros. Correspondente bancário, diga-se de passagem, que precariza o trabalho bancário e não oferece nenhum tipo de segurança. Para esses abusos, nenhuma voz se levanta; apenas a dos sindicatos bancários, que defendem a inclusão bancária.
Jeferson Boava, presidente do Sindicato dos Bancários de Campinas e Região