O excesso de trabalho, acompanhado da competitividade, da responsabilidade e da pressão por resultados, tem adoecido o trabalhador (a) bancário (a). Entre os sintomas, dificuldades de concentração, insônia, isolamento, sentimento de incompetência e cansaço físico e mental. Esse mal tem nome: Síndrome de Burnout.
Para falar sobre a doença, O Bancário conversou com o Dr. Ailton Luis Piva Junior, especializado em clínica médica e medicina ocupacional, com atuação na área de saúde mental.
Leia, a seguir, os principais trechos(editados) da entrevista.
O Bancário: O que é a Síndrome de Burnout, também chamada de Síndrome do Esgotamento Profissional?
Ailton Luis Piva Jr: A síndrome de Burnout é um transtorno em saúde mental, mas também com comprometimento do físico. É a síndrome do esgotamento físico e mental de um indivíduo, de um trabalhador.
O Bancário: Quais são os sintomas?
Ailton Luis Piva Jr: O primeiro deles é a aversão ao trabalho. É o estresse, o nervosismo, a sensação de incompetência. Sintomas físicos que podem ser multifatoriais. Por exemplo: diarreia, tremores, sensação de depressão, choro sem uma motivação lógica, dores de cabeça frequente e insônia. O que mais preocupa são os sintomas comportamentais. Diminuem profundamente a resiliência, a paciência. O que torna (o indivíduo/trabalhador) menos sociável, na medida que esses sintomas progridem. Como tende a se sentir extremamente incompetente, reduz todo e qualquer gasto de energia para deixar, pura e simplesmente, para o trabalho. Compromete toda uma sociabilização. Se tinha hábitos, por exemplo, numa quinta-feira (jogar) futebol com amigos, deixa de ir. Se a funcionária tem o hábito de encontros com suas amigas, colegas de trabalho, passa a ter dificuldade, deixa principalmente a atividade física, abandona as atividades de lazer. Por que? Na verdade (indaga): como eu, um (a) provável funcionário (a) incompetente, me dou ao direito de ter lazer, uma boa qualidade de vida, um bom sono?
O Bancário: Qual é a principal causa?
Ailton Luis Piva Jr: Essa síndrome é multifatorial. Existem uma enormidade de circunstâncias que podem desencadeá-la. Mas, a principal delas, é a tensão a qual indivíduo, o trabalhador, é submetido no seu dia a dia.
O Bancário: Excesso de trabalho?
Ailton Luis Piva Jr: Sim, mas principalmente excesso de responsabilidade. Uma das piores circunstâncias, é a competitividade.
O Bancário: A Síndrome pode resultar em qual doença?
Ailton Luis Piva Jr: Pode resultar numa série de doenças, de comprometimento clínico. Por exemplo, gastrite, síndrome do colo irritável (descarga de adrenalina sobre o intestino), fazendo com que esse indivíduo, trabalhador, sofra frequentemente de diarreias, cólicas e dores abdominais. E, no psíquico, principalmente a depressão.
O Bancário: Qual o efeito da Síndrome na vida profissional do trabalhador (a)?
Ailton Luis Piva Jr: Devastador. Num determinado grau de intensidade inibe toda a funcionabilidade do profissional. Por mais gabaritado, por mais instrumentalizado, melhor instrumentalizado que seja, se torna completamente inábil para o trabalho.
O Bancário: O ritmo de trabalho no setor bancário é frenético. A cobrança pelo cumprimento de metas de vendas (abusivas), por exemplo, não para. O que fazer? É possível prevenir?
Ailton Luis Piva Jr: Sim. Mas, requer mudanças importantes na rotina de trabalho, na ambientação do local de trabalho e nas relações interpessoais e interinstitucionais. Ou seja, é necessário que se mude, principalmente, a ação dos gestores sobre os funcionários. No mundo competitivo é necessário o cumprimento de metas. Mas existem formas, maneiras de se colocar as metas e de se buscar o cumprimento. Hoje, o funcionário é obrigado a cumprir metas completamente desumanas. Não é transferida a compreensão de que, caso não as cumpra, não será punido de alguma forma (no setor bancário, descomissionamento e transferência). Se não foi competente, mediante os critérios do patrão, perde o comissionamento. E, além de tudo, será segregado num local de menos importância.
O Bancário: Para quem já convive com a doença, quais atividades podem contribuir para o tratamento ou para minimizar os sintomas?
Ailton Luis Piva Jr: Primeiro: o funcionário (a) que possa se perceber enquadrado nesta sintomatologia e, provavelmente, no diagnóstico de Síndrome de Burnout, deve, precisa e merece buscar ajuda. Onde buscar? No médico, que tenha um mínimo de especialização e sensibilidade para detecção do problema. Segundo: a psicologia, a terapia semanal, é de fundamental importância. Medicação, às vezes, se torna extremamente necessária. E não é vergonha, não é fracasso, não é incompetência buscar ajuda. Na parte pessoal, precisa fazer aquilo para qual menos se predispõe, que são atividades que o retire da rotina, atividades que permitam que possa ter um alívio de suas sensações, de suas emoções, que são lazer e atividade física.
A íntegra da entrevista está disponível, em vídeo , clique.
Charge: Cláudio de Oliveira / Max Francioli (Baseado na obra “O Grito”, de Munch)
Foto: Airton Francisco