As centrais sindicais, incluindo a CUT, exigiram na tarde do último dia 24 a suspensão das reformas trabalhista e da Previdência Social, durante manifestação denominada Ocupa Brasília, na Esplanada dos Ministérios, que reuniu mais de 150 mil trabalhadores; entre eles, sete diretores do Sindicato e um assessor. A marcha dos trabalhadores, que saiu do estádio Mané Garricha em direção ao Congresso Nacional, foi duramente reprimida pela polícia militar, que não economizou bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha e cassetete.
A tramitação das duas reformas no Congresso Nacional foi suspensa por seus relatores, no último dia 18, menos de 24h depois do ‘vazamento’ de conversas gravadas por um dos donos do grupo J&F, proprietário do frigorífico JBS, Joesley Batista, com o presidente da República, Michel Temer. No Senado, no entanto, o presidente da Comissão de Assuntos Econômicos, Tasso Jereissati (PSDB-CE), no último dia 23, após tumulto, considerou como lido o relatório sobre a reforma trabalhista elaborado pelo senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES), que sugere a aprovação da reforma.
Em nota oficial no último dia 18, o citado senador Ricardo Ferraço, relator da reforma trabalhista em duas comissões (Assuntos Econômicos/CAE e Assuntos Sociais/CAS), diante do quadro atual, considerou a tramitação “secundária”. No Senado, a reforma aprovada na Câmara no último dia 26 de abril, como PL 6787/2016, é identificada como Projeto de Lei da Câmara (PLC) 38/2017. Já o relator da reforma da Previdência Social (PEC 287) na Câmara dos Deputados, Arthur Maia (PPS-BA), no mesmo dia 18, disse em Nota à Imprensa que “é hora de arrumar a casa”.
Avaliação
Para a presidente do Sindicato, Stela, que participou da manifestação em Brasília ao lado dos diretores Cezar, Daniel, Donizetti, Eduardo, José Carlos e Samuel e do assessor Celso, os trabalhadores deram mais um importante passo na luta contra as reformas trabalhista e da Previdência Social. “No dia 28 de abril, a greve geral deixou claro que os trabalhadores estão mobilizados. Agora, em Brasília, foi dado o recado aos parlamentares”. Quanto à crise política, Stela destaca que a saída passa pelo respeito às instituições democráticas.
Crise política
A crise política foi instalada no início da noite do último dia 17, logo após o colunista Lauro Jardim publicar no site do jornal “O Globo” que o presidente da República, Michel Temer, foi gravado em março deste ano por um dos donos do frigorífico JBS, Joesley Batista, em ação conjunta da Polícia Federal com a Procuradoria Geral da República. Dentre outros temas, as conversas sugerem que o presidente da República concorda com a compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB), preso pela Operação Lava Jato. A gravação, cabe destacar, foi uma das provas apresentadas à Justiça por Joesley Batista para firmar sua delação premiada.
No dia seguinte (18) o ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a abertura de inquérito contra o presidente da República com base na delação dos donos do frigorifico JBS e da citada gravação ocorrida no Palácio do Jaburu, em Brasília. No mesmo dia 18 o ministro Fachin decidiu também derrubar o sigilo do áudio de 38 minutos, e o presidente da República, em pronunciamento à nação, afirmou que não renunciaria; dois dias depois (20), repetiu a afirmação em novo pronunciamento.
No último dia 19, o STF liberou os vídeos das delações dos donos do JBS, que disparam acusações contra políticos e partidos que comandaram e comandam o país nas últimas décadas, versando sobre propinas. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em seu pedido de abertura de inquérito contra o presidente da República, no STF, vê indícios dos crimes de obstrução de Justiça, corrupção e organização criminosa.
Fotos: Júlio César Costa